Detectada pelo chamado exame do cotonete, a presença desta bactéria no canal vaginal da mãe não é sinônimo de cesárea. Aqui, tudo o que a grávida precisa saber sobre o streptococcus do grupo B
O streptococcus B é um tipo de bactéria comum na região vaginal e perianal das mulheres. Inofensiva para os adultos, pode ser um risco para os bebês, durante a gestação. Perigoso a ponto de a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgar uma pesquisa pedindo urgência no desenvolvimento e na aprovação de vacinas que possam prevenir a contaminação.
De acordo com a OMS, as taxas de infecção por esta bactéria estão relacionadas a mais de 500 mil casos de partos prematuros anualmente e levando a mais de 100 mil mortes de recém-nascidos e, pelo menos, 46 mil casos de bebês natimortos, além de outras sequelas a longo prazo. Muitos médicos solicitam o chamado exame do cotonete na reta final da gestação, justamente para detectar a presença ou não de streptococcus, já que isso pode influenciar – mas nem sempre impedir – o parto normal.
Mas quais são os riscos, qual a relação da bactéria com o parto normal e como proteger seu bebê? Conversamos com o obstetra e ginecologista Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês e Hospital Albert Einstein (SP), para entender.
Streptococcus B: quais são os riscos na gravidez e no parto?
“O streptococcus B é uma bactéria que coloniza naturalmente a região do ânus, reto e vagina. Ela convive na flora sem causar nenhum dano. O problema é quando ela adentra o canal do colo do útero e infecta a bolsa a amniótica”, explica Pupo. Ela causa uma inflamação chamada corioamnionite, que fragiliza a bolsa e pode levar a um rompimento. A consequência pode ser um parto prematuro.
E os riscos não param por aí. “Quando a bolsa se rompe, essa bactéria pode passar para o bebê e colonizar o pulmão, levando a pneumonia neonatal. Mais raramente, leva à meningite e à septicemia (infecção que se espalha rapidamente pelo organismo), e óbito”, afirma.
Como é uma bactéria própria da flora do ser humano, o corpo não tem uma defesa adequada. “Isso faz com que seja muito difícil o tratamento com antibióticos. Por isso, a contaminação é uma causa importante de óbito de recém-nascido e também de partos prematuros”, aponta o médico.
Streptococcus positivo = zero possibilidade de parto normal?
E se a mulher testa positivo para streptococcus B no final da gravidez? O parto vaginal pode ser perigoso, pelo risco de o bebê ter contato com a bactéria durante a passagem? Não necessariamente. “Primeiro, obviamente, é feita a pesquisa. Se der positivo, existem antibióticos para prevenir que a bactéria consiga chegar ao feto”, explica Pupo.
“A gestante com streptococcus B positivo não deve esperar um período muito prolongado em casa. Ela deve ir ao hospital ou à maternidade um pouco antes, para que possa ser avaliada. Se o trabalho de parto estiver, de fato, em andamento, o médico deve iniciar o esquema de antibiótico”, completa.
Segundo o obstetra, quando a grávida está positiva para streptococcus B em trabalho de parto, quanto menos manipulações, melhor. Então, nada de exames de toque excessivos, descolamento manual da bolsa ou manobras parecidas. “Se for necessário romper a bolsa artificialmente, é preciso aguardar a segunda dose de antibiótico ser administrada”, pontua.
Exame do cotonete: quando ele é feito?
Para detectar a presença ou não da bactéria streptococcus B, os profissionais de saúde costumam pedir, entre a 35ª e a 37ª semanas da gestação, o teste, popularmente chamado de exame do cotonete. “ É colhido um swab, como se fosse um cotonete, de secreção vaginal e outro da região perianal. Então, é feita uma cultura para saber se há ou não presença de colonização por essa bactéria”, explica Pupo.
O exame costuma ser solicitado pela maioria dos médicos na rede privada, mas há controvérsias. Várias associações médicas, de diferentes países, recomendam o teste para todas as gestantes. Na rede pública brasileira, em algumas localidades, ele só é solicitado para quem tem fatores de risco. Isso pode acontecer quando a bolsa rompe antes do trabalho de parto ou quando a grávida apresenta febre. “As duas características podem ser sinais da corioamnionite, a infecção da bolsa das águas”, diz o obstetra.
Como é o tratamento para streptococcus?
E se a mulher positiva para streptococcus B entrar em trabalho de parto ou a bolsa se romper? Inicia-se um tratamento com antibiótico durante o trabalho de parto.
“Esse antibiótico é aplicado na mãe por via endovenosa (na veia). O antibiótico, então, circula pelo sangue materno e acaba atravessando a barreira placentária. Ali, vai ganhar o espaço do líquido amniótico e chega ao bebê. Com a presença de uma concentração adequada no líquido, a medicação vai impedir a bactéria de colonizar a região. Então, ela não vai conseguir atingir o feto”, relata o médico.
“Isso deve ser realizado com uma primeira dose de ataque pelo menos 4 horas antes do parto. A seguir, a mulher deve receber uma dose a cada quatro ou seis horas, até o bebe nascer”, completa.
Dá para prevenir o streptococcus B?
Como a bactéria streptococcus B faz parte da flora intestinal, não há uma maneira de prevenir. “Ela está ou não presente e não adianta tratar sem ser durante o trabalho de parto”, ressalta Pupo. Isso porque, se a mãe tomar o antibiótico antes, ela vai sumir, mas, assim que parar a medicação, vai voltar. “A estratégia de tratar a bactéria fora do parto deve ser apenas para quem tem risco iminente de infecção. Isso deve ser criteriosamente avaliado pelo profissional de saúde que a acompanha”, diz o obstetra. “De maneira geral, não é indicado. Iniciar tratamentos precoces pode fazer com que a bactéria se torne resistente aos antibióticos”, complementa.
Está chegando nessa fase da gravidez e seu médico não tiver falado nada sobre o exame de streptococcus B? Levante o assunto e veja se ele recomenda a realização do teste. Tudo pela saúde do seu bebê.
Fonte: Babyhome.me
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